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Pareço alegrar meninas? Pareço feliz? |
Carlos Gildemar Pontes
Os mendigos assaltaram o depósito do lixão.
Puseram nos sacos sobejos de valor.
Foram pelas ladeiras alegres, mas sem abrir a boca, o vento era frio e os dentes de sorrir doíam.
Lá nos viadutos fizeram a partilha.
Quero a boneca pra minha neta.
Que nada, ela é minha!
Sem conversa o chefe saltou sobre o da boneca e dividiu sua cara ao meio com uma giletada.
O sangue quente nos dentes…
Todos sacaram suas giletes e retocaram uns aos outros.
O velho barrigudo segurava a torneira da jugular.
A netinha aproveitou para tomar a boneca e correr, os cabelos espetando o vento, um olho aberto e outro fechado, sorriso de brinquedo.
Sãs e salvas, as duas moram no sinal.
A boneca, olho fechado, olho aberto, mão estendida recebe as moedas.
O sujeito do outro lado da rua tem planos para a menina.
Puseram nos sacos sobejos de valor.
Foram pelas ladeiras alegres, mas sem abrir a boca, o vento era frio e os dentes de sorrir doíam.
Lá nos viadutos fizeram a partilha.
Quero a boneca pra minha neta.
Que nada, ela é minha!
Sem conversa o chefe saltou sobre o da boneca e dividiu sua cara ao meio com uma giletada.
O sangue quente nos dentes…
Todos sacaram suas giletes e retocaram uns aos outros.
O velho barrigudo segurava a torneira da jugular.
A netinha aproveitou para tomar a boneca e correr, os cabelos espetando o vento, um olho aberto e outro fechado, sorriso de brinquedo.
Sãs e salvas, as duas moram no sinal.
A boneca, olho fechado, olho aberto, mão estendida recebe as moedas.
O sujeito do outro lado da rua tem planos para a menina.
* * *
Conto que simplesmente amei, não costumo postar textos de outras pessoas em meu blog, mas essa obra, eu não poderia deixar de partilhar com vocês. Esse conto faz parte da literatura pós-modernista, ou contemporânea. É um texto rico, em que há a discussão de questões de ordem social, mas que muitas vezes, vemos com uma coisa banal.
TAIS QUESTÕES NUNCA DEVEM SER VISTAS COMO BANAIS!
Espero que gostem, tanto ou mais do que gostei. Digam-me o que acharam nos comentários! =*
Nossa, tbm adorei mto o texto. Ele provoca reflexões quanto a ordem social vigente na sociedade, que nos deparamos e ignoramos diariamente. É simples, mas incisivo. Pude sentir a gilete na minha jugular. Mas, no momento, a vítima é outra e eu aqui, na frente do computador, enquanto ela fatura no sinal. Quanta injustiça meu Deus! Assim como em 'distorções', aqui também cabe a sua idéia Maiara, de q quando nos damos conta dessas situações, lutamos para evitá-las. Minha vida é uma constante luta, literalmente, contra a essas questões de injustiças, violações de direitos da criança e do adolescente, entre outras. Mas, não podemos negar, agora estou no aconchego da minha cama, enquanto nem tão sãs e salvas, "as duas (milhoooooões) moram no sinal. A boneca, olho fechado, olho aberto, mão estendida recebe as moedas. O sujeito do outro lado da rua tem planos para a menina".
ResponderExcluirBjs
Obrigado por ter postado meu texto, Maiara. Gostei muito dos comentários.
ResponderExcluirGrande abraço.
Gildemar Pontes